Quanto tempo leva para aprender outro idioma?

Quando iniciamos um novo projeto, é natural calcularmos o tempo que investiremos nele, e com a aquisição de uma nova língua não é diferente. Com o frenesi e as promessas da vida moderna, perdemo-nos entre os “fique fluente em seis meses” e os oito anos presos num curso de idiomas. Mas afinal, quanto tempo leva para aprender uma nova língua?

A fluência é um termo bastante discutido entre os linguistas, pois o que é ser de fato fluente? É ter a habilidade de pedir uma informação na rua ou a de ler um ensaio científico? Perceba que não é tão simples defini-la. A velocidade com que se aprende outra língua depende de algumas coisas, como:

Qual é a minha língua nativa?

Para nós, falantes nativos da língua portuguesa, as línguas românicas (espanhol, italiano, francês, romeno, etc.), sempre serão mais fáceis para aprender, pois, vindas da mesma raiz (latim), compartilham semelhanças etimológicas, fonéticas e sintáticas. Por outro lado, o japonês, o russo e o alemão, por exemplo, estão entre os idiomas mais difíceis para os filhos do latim aprenderem. Os distintos sistemas de escrita, os sons e a disposição das palavras numa frase causam as principais dificuldades. Dependendo do grupo e família linguística ao que o seu idioma materno pertence, o tempo estimado será de:

Grupo 1: 24 semanas, 600 horas de estudo intenso.
Grupo 2: 30 semanas, 750 horas de estudo intenso.
Grupo 3: 36 semanas, 900 horas de estudo intenso.
Grupo 4: 44 semanas, 1100 horas de estudo intenso.
Grupo 5: 88 semanas, 2200 horas de estudo intenso.

As línguas latinas e o inglês estão no Grupo 1, ou seja, escolhendo uma delas, você, se estudar intensa e sabiamente, alcançará um nível considerável em 24 semanas. Nota: isso não significa que em cinco meses estará entendendo e expressando-se como um nativo, mas terá uma boa noção do contexto e das peculiaridades da idioma.

Plano de fundo

Um brasileiro que fala inglês aprenderá árabe, apesar dos desafios, muito mais rápido que outro que só fala português. Os motivos são alguns, por exemplo, quem já aprendeu um segundo idioma sabe que é capaz de aprender um terceiro, e não por possuir um dom especial, mas por conhecer as técnicas e o processo de adquirir outro código linguístico. Algo parecido ocorre com músicos multi-instrumentistas, eles já aprenderam a teoria musical, basta agora saber aplicá-la em outro instrumento. Por isso, basicamente, o aprendizado de um segundo idioma depende muito da mentalidade do indivíduo, crê-se capaz de aprendê-lo? Aprenderá. Crê-se incapaz? Acabará por sê-lo. Outras questões devem ser também consideradas: o contato com nativos, a exposição prévia não só a outras línguas, mas também a que se está aprendendo, e as oportunidades e curiosidades que se apresentaram ao longo da vida. Tenha a ciência do seu lugar no mundo e use isso ao seu favor.

Quanto tempo tenho disponível?

Paulo passa duas horas por dia expondo-se ao francês, enquanto Marcos só se lembra da existência da língua no seu curso semanal, quem você acha que aprenderá mais rápido? Como já foi mencionado, os grupos linguísticos e as experiências que tivemos influem no nosso aprendizado, porém o tempo e o esforço que sobre ele aplicamos tem, de igual modo, uma importância significante. Se você quer aprender inglês, mas só entra em contato com a língua num cursinho ou poucas horas durante a semana, esquece, ou tenha muita paciência, pois alcançar um nível razoável lhe demorará anos e anos.

É melhor ter contato com a língua por uma hora todos os dias que por cinco na quarta-feira e no sábado. A constância, a rotina e o esforço são fundamentais na aquisição de um segundo idioma; não há mágica, um talento ou poder metafísico, apenas compromisso e prazer com o processo. Não faça do idioma parte da sua vida, viva através do idioma. Com o esforço vêm os métodos e materiais usados, mas jamais haverá o curso ou o livro perfeito que ensine tudo sobre uma língua, pois sendo intrínseca à humanidade, necessita-se tempo, longanimidade e dedicação para conhecê-la.

Qual é o nível almejado?

Por que você quer aprender outro idioma? Para passar uma semana no exterior ou para viver em outro país? Quer pedir uma informação na rua ou ganhar uma bolsa naquela faculdade? Seu objetivo é ler ou escrever um livro? Unindo tudo o que já foi dito, o tempo levado para aprender outro idioma depende também do nível que se quer alcançar. A essas alturas você deve entender que a aquisição doutra língua, bem como da materna, é um negócio para a vida inteira. Não vale a pena esforçar-se para aprendê-la e depois negligenciar o seu uso.

A proficiência em uma língua, segundo o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas, divide-se em seis níveis: A1, A2, B1, B2, C1 e C2. O grupo A significa iniciante e básico; o B, intermediário e intermediário-superior; e o grupo C significa avançado e proficiente. O tempo e as habilidades conquistadas em cada grupo são:

A1: entendimento de frases muito básicas e de uso diário. Discurso lento e cuidadosamente articulado, com longas pausas. Textos muito curtos e simples, nomes e palavras familiares. De 90 a 100 horas, aproximadamente.

A2: compreensão de linguagem pessoal, familiar e de trabalho muito básica. Capaz de atender às necessidades com discurso lento e claro. Textos curtos e simples sobre assuntos familiares. De 180 a 200 horas, aproximadamente.

B1: entendimento sobre pontos principais de temas comuns no trabalho, na escola ou em viagens. Detalhes gerais e específicos com discurso claro. Textos factuais sobre temas de interesse. Descreve experiências e eventos, sonhos, esperanças e ambições, e dá breves razões e explicações para opiniões e planos. De 350 a 400 horas, aproximadamente.

B2: compreende as principais ideias de textos complexos sobre temas concretos e abstratos, incluindo discussões técnicas em seu campo de especialização. Interage com um grau de fluência e espontaneidade que torna a interação com falantes nativos possível e sem esforço para nenhuma das partes. Produz textos claros e detalhados sobre vários assuntos e expõe as vantagens e desvantagens das opções. De 500 a 600 horas, aproximadamente.

C1: compreende uma ampla gama de textos mais longos e exigentes, reconhecendo os seus significados implícitos. Expressa as suas ideias de forma fluente e espontânea, sem parecer buscar palavras e expressões. Pode usar a linguagem de forma flexível e eficaz para fins sociais, acadêmicos e profissionais. Pode produzir textos claros, detalhados e bem estruturados sobre assuntos complexos, mostrando o uso controlado de estruturas organizacionais, conectores e dispositivos coesivos. De 700 a 800 horas, aproximadamente.

C2: compreende com facilidade praticamente tudo o que se ouve ou lê. Pode resumir informações de diferentes fontes faladas e escritas, reconstruindo argumentos e opiniões de maneira coerente. Pode expressar-se de forma espontânea, muito fluente e precisa, distinguindo as diferenças mais sutis de significado, mesmo nas situações mais complexas. De 1000 a 1200 horas, aproximadamente.

Observação: a quantidade de horas investidas em estudo intensivo pode variar de acordo com a complexidade da língua estudada se comparada com a língua nativa, bem como o material e esforço aplicado.


Antes de assentar o fundamento, o homem avalia se tem condições de concluir a casa, com um idioma, porém, esse cálculo não é possível. Há estimativas, tempos, habilidades e grupos, mas a verdade é que passaremos o resto das nossas vidas descobrindo a língua que nos propomos a aprender. Acaso você conhece todas as palavras do português, sabe usar com maestria todas as regras gramaticais e jamais se confundiu com os diferentes sotaques? Aprender um idioma não é passar a ponte, mas se jogar no mar aberto; é desfrutar cada calo enquanto percorre essa longa jornada, tudo pelo êxtase das paisagens que outros horizontes oferecem. Não se preocupe com os anos, apenas viva e exponha-se um dia de cada vez, aprenda algo novo todos os dias e quando vir, estará entendendo mais do que pensou chegar a entender.


Você também poderá gostar de

Deixe um comentário